
Recordo-me que quando pequena, eu fui apenas uma vez ao circo, e na cidade onde eu morava tinha circo quase todo mês. Acho que fui mais movida pela curiosidade mesmo, coisa de criança, motivada pelas outras crianças também fervorosas de curiosidade e animadas pela possibilidade de poderem ver leões pularem círculos de fogo e mocinhas fazerem malabarismos.
Sempre fui uma criança medrosa. Na esquina da minha rua morava uma menina que tinha cães enormes e furiosos que latiam na grade toda vez que a gente passava, logo, visitar o circo para assistir espetáculos de leões e elefantes não era uma idéia que me agradava inteiramente, confesso. Também nunca gostei dos palhaços. Tá, vou contar um segredinho: morro de medo de palhaços. Mesmo hoje, sabendo que por trás daquela cara pintada e roupa larga existe um homenzinho legal que deseja arduamente fazer crianças e adultos sorrirem, tudo o que um palhaço consegue de mim é me manter distante deles. Vai ver isso tudo foi culpa do Bozo e sua overdose em aparições televisivas nos anos 80... Palhaços me despertam temor, angústia, medo, pavor, pânico!
Mas o grande fato é que eu penso que essa aura toda de circo já não tem mais aquela graça, aquele encantamento todo que parecia ter quando éramos menores e que nos despertava para o novo e diferente toda vez que caminhões coloridos e iluminados chegavam na cidade, trazendo animais de grande porte e seres humanos que desafiavam o poder da gravidade. A TV superou o circo e podemos assistir macacos adestrados no YouTube.
Não tem mais graça ir ao circo, essa é que é a grande verdade. Você pode achar isso triste, melancólico. Falar que o circo perdeu seu encantamento é tão deprimente como reconhecer que os antigos “Bailes de Carnaval” perderam lugar para a aBUNDÂncia de corpos bronzeados e “celebridades 15 minutos de fama à la BBB” na Sapucaí.

E quanto aos palhaços, meu deprimido leitor, você certamente não verá graça alguma naqueles bobalhões do circo. Aqueles palhaços de circo que você, leitor balzaquiano (ou não) se recorda, perderam toda a graça e magia do humor. Tiveram seus espaços tomados por palhaços de gravata e colarinho branco. Esses sim desafiam toda a graça do mundo querendo que você acredite que viver com R$ 26.723,13 mensais (subsídio dos Ministros do STF considerado teto para efeito de remuneração dos servidores públicos) simplesmente não dá, enquanto o pacato leitor deve ser “capaz de atender a suas necessidades vitais básicas a às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social” (Art. 7º, IV da Constituição Federal de 1988) com R$ 546,57 mensais (salário mínimo regional gaúcho).

Esses palhaços riem da sua cara nos 45 dias anteriores à antevéspera das eleições no horário da propaganda eleitoral gratuita, querendo que você acredite em “Vote Tiririca, pior que tá não fica!” ou “Com a minha fé e as fezes de vocês, vou ganhar a eleição.”
Para os que continuam gostando e admirando os circos e considerando-os como a forma mais tradicional de expressão da arte, recomendo deixar o Circo de Moscou de lado e visitar um com os mais modernos requintes da arquitetura brasileira projetado por Oscar Niemeyer:

Congresso Nacional - Brasília
5 comentários:
Sempre preferi o zoológico ao circo, até pq também nunca fui de palhaços, mas sim de ver os animais de perto. Embora não tenha medo de palhaços (incrível a quantidade de gente que teme eles) também nunca vi qualquer graça em seus números. Creio que o circo na forma original (surgido na antiguidade) não mudou muito de forma e hoje não desperta tanta curiosidade ou "magia" nas pessoas empregnadas pelos meios de comunicação. De qualquer forma, cabe o registro de que sempre achei a "vida circense" de andarilho muito fascinante!
Os palhaços, de colarinho branco, com toda certeza são os piores sempre nos fazendo de idiotas.
Haja vista que 'fazer de palhaço' é 50% responsabilidade deles e 50% do próprio feito de palhaço. Ficar na posição vitimizadora não é pragmaticamente eficaz.
Pois é, minha querida, o brabo é que, no fundo, os palhaços somos nós, essa é que é a triste realidade. Pior ainda é quando comparamos as inocentes brincadeiras dos palhaços de circo às maracutaias dos que vestem gravata e colarinho branco: é possível perder qualquer tipo de pânico quanto àqueles que estão no circo, não acha? Beijão! Continue escrevendo, viu? Adoro seus textos! :)
Anna, obrigada pelo comentário! Mas o pior é que acho que somos parte de uma pequena parcela da população (beeeem menos do que 51%, isso com certeza!) daqueles que são sim, vítimas, ou melhor dizendo, palhaços da vez, visto que não votamos na Dilma, não votamos no PT e ainda por cima vemos ter que aguentar muita gente meter o nosso dinheiro na cueca sem termos culpa alguma no cartório. É brabo...
Postar um comentário