3 de dezembro de 2007

Pena de Morte


Ao contrário do que parece, não vou adentrar a recorrente discussão em torno da adoção de tal medida ou não. Acontece que hoje, enquanto almoçava meu sanduíche, presenciei uma cena que me tocou:

Uma aranha estava imobilizando uma formiga. Embora as dimensões das criaturas fossem deveras diminutas, o sentimento e dúvidas que me tomaram eram inversamente proporcionais. A aranha dava voltas em torna de sua vítima, enrolando-a com os fios que tecia num ritmo tão frenético quanto ao da formiga que se debatia, em vão, para soltar-se de tal artimanha. Fiquei observando enquanto as forças da formiga se esvaíam, suas frágeis pernas não conseguiam se livrar dos fios de teia, e para cada fio que ela vencia, a aranha a enrolava com 2 mais.

Enquanto presenciava o combate, me passou pela cabeça: devo interferir? com o menor dos esforços eu poderia salvar aquele pequeno inseto e frustrar as ambições de banquetear-se do aracnídeo. Se eu tomasse tal decisão, estaria interferindo na ordem natural dos acontecimentos... a Aranha, afinal de contas, estava capturando sua presa com méritos, apenas seguindo as leis da natureza. Seria minha ação justa? com qual direito eu poderia influir no destino?

Como posso salvar a vida da formiga, se na mesma lógica, sou contra a pena de morte? Se não valido as ações de outrem para encerrar a existência de um criminoso, como posso escolher se a formiga deve ou não viver? afinal, elas estão seguindo o curso natural da vida...

Enquanto elaborava estes vãos devaneios, o inseto já tomabara a mercê de sua predadora... seus movimentos já não tinham amplitude alguma, restritos naquela seda mortal. Como que os espasmos de um moribumdo, ainda era nítido que tentava se libertar... Se eu não encarasse a escolha que me torturava, seria tarde de mais para a formiga e para mim mesmo.

Tenho uma natural simpatia por aranhas. Algumas representantes da classe vivem em harmonia no meu quarto. Não, calma, meus aposentos não estão tomados por curtinas de teias e poeira, eu meramente deixo que alguns aracnídeos morem nas quinas do teto, caçando mosquitos e outros insetos irritantes, como que num acordo implícito firmado por ambas as partes.

Eis que o impulso heróico brotou no meu ser e com um suave peteleco afastei a aranha, sem machucá-la, dando uma chance para a pequena formiga. Como que conformado, o aracnídeo se retirou e aguardou, observando de longe o desfecho de minha interferência. Sem receber reforço, a teia que envolvia sua vítima foi cedendo à vontade de viver do inseto. Em poucos segundos a formiga foi se libertando das amarras para erguer-se novamente. Aparentava estar confusa, se perguntando como estava viva, quando antes roçava suas anteninhas nas portas do outro mundo. Uma vez de pé deu algumas voltas, procurando corajosamente por sua então captora, para depois seguir seu caminho.

Quantas vezes encontramos pessoas que podem nos abrir as portas quando não vemos saída?Continuo me perguntando, com que direito intervi? Fiz a coisa certa? pode ter sido uma pequena ação, mas uma árdua decisão...


Se interferi a favor da vida, porque não interferir a favor da morte?

O autor, contrário à pena de morte, acredita que existem linhas das quais nunca devemos cruzar, pois delas não há volta.

Um comentário:

Anônimo disse...

tu voltou pra casa e salvou a vida de uma formiga
eu voltei pra casa e assisti O ATIRADOR =D